terça-feira, 11 de junho de 2013

Uma multidão





Certa vez ouví de uma amiga que um filho mais um filho não é igual a dois filhos... é igual a uma multidão! Dez anos da minha primeira experiência com a maternidade, dois filhos depois, e concordo cada vez mais com essa afirmação.

Tudo começou no parto: O primeiro filho nasceu de uma cesária; vício da médica e inexperiência da mãe de primeira viagem. Nasceu em pleno feriadão de Páscoa e me fêz renascer. Me tornei mãe no instante que sentí aquele corpinho se aconchegando no meu e parando de chorar imediatamente. Vínculo explícito pra quem quisesse ver! O segundo, veio novamente em um feriado, pleno Reveillon, quase cinco anos depois do primeiro (Brinco que sou mãe de varejo...).Tentei parir de cócoras, sem anestesia. Sonho realizado, porém, com ajuda do fórceps e da anestesia, pra me mostrar, desde cedo, que a minha vontade ía ficar em segundo plano com esse capricorniano legítimo.

Hoje, cinco anos depois do nascimento do meu caçula e me percebo diariamente uma aprendiz na tarefa de ser mãe. Afirmo com veemência que não é amor incondicional, não! Tem instinto agindo pra valer, mas é uma relação construída, permeada por muita troca! É bem verdade que nós, pais, geralmente amamos mais! Acho até natural que seja assim porque tivemos consciência durante todo o processo, foi escolha (consciente ou não) nossa. Eles, descobrirão a grandeza desse amor depois, com seus próprios filhos. Por outro lado, se bobearmos, invadimos as nossas crias de projeções, desejos não realizados, expectativas...

Entre o sabor inesquecível das descobertas da maternidade e as enormes dúvidas sobre os melhores caminhos para conduzí-los, onde fica a prática do território de cada um? Onde termina o meu espaço e começa o deles? Tarefa pra herói nenhum botar defeito!

Não nego os desacertos, aprendo com eles, reconheço neles a minha humanidade e tento não repetir. Os acertos, vêm através de cada beijo roubado, dos abraços de urso ao acordar de manhã e das declarações de amor. Dia desses o meu filho mais velho me disse que não me chamava durante a madrugada quando acordava assustado depois de algum pesadelo porque sentia o meu cheiro no travesseiro e o “coração fica calmo de novo, mãe!” (costumo deitar com eles pra contar alguma estória antes do sono chegar).

Gero meus filhos permeados por amor condicional mesmo que, como todo sentimento, precisa ser alimentado diariamente! Essa é a grande lição que eu, como mãe que quer que seus filhos se tornem quem eles realmente são, deixo para a minha pequena “multidão”...







terça-feira, 14 de maio de 2013

Eu uso óculos!




Foto: Cao Guimarães

No fim de semana passado lí no jornal que uma peça estava em cartaz: Barafonda. Gratuita, encenada nas ruas da Barra Funda, crítica favorável e nome mais que simpático, na minha opinião, foram suficientes para que fechasse a programação da minha tarde de sábado.

A história começava em uma praça e se deslocava por todo o bairro, misturando história e mitologia. Algumas vezes, com insights realmente geniais; noutras vezes, apenas elucubrações impossíveis da expectadora aqui decifrar.

Uma cena me tocou muito e continua me impactando. Não queria escrever sobre nada este mês, numa preguiça de inverno absoluta, cansada da minha vozinha interna, prolixa que só, que teima em conversar comigo o tempo todo, sem trégua. Mas a cena, perdurando na minha cabeça, nos meus pensamentos.

Enquanto caminhávamos pelo bairro, os atores se misturavam com os pedestres, lojistas, motoristas de carros e motos que passavam por alí. Debaixo do Minhocão, arte e vida real caminhando de mãos dadas. Várias cenas acontecendo ao mesmo tempo quando, de repente, uma expectadora pára, saca o celular e tira uma foto: um adolescente socorrido em plena crise de overdose pelos atores. Ela enxergando fantasia enquanto a realidade estava alí, estampada diante de quem quisesse enxergar. Masterização do trágico? E eu, expectadora da expectadora, chocada, tentando identificar a que enredo a nossa vida pertence.

Se por um lado, imaginação e desejo podem nos libertar vide a proposta deliciosa naquela tarde de sábado; por outro lado, o quanto de vida nos escapa, perdida  em um cotidiano cada vez mais espetacularizado e distante da realidade?

Ainda me perguntando se a “fotografa” da peça se deu conta da cena que registrou. Para além da interrogação, uma constatação: Olhar é bem diferente de enxergar.

A preguiça às vezes nos poupa. Às vezes, não...







segunda-feira, 15 de abril de 2013

Bella e a fera


Photo: Ruben Ireland


Vai mês, vem mês e a TPM sempre chega com carga total. Me pego fazendo um esforço sobrenatural para acreditar em um sentido maior para a semana e meia de raiva sem motivo aparente, para a implicância com o que normalmente não me faz nem cócegas, sem contar com a emoção a flor da pele.

É bem verdade que no restante do mês prefiro mesmo é enxergar o copo meio cheio do que percebê-lo meio vazio... Talvez seja algum resquício do vício pelo jogo do contente que o Complexo de Polyana do final da infância me deixou de herança. Pouco importa porque de qualquer forma o início do mês chega e, junto com ele a tal da TPM me forçando a olhar para os tons mais escuros da vida, aqueles carregados por tintas mais dramáticas e que passam batido no restante do mês. E, justo nesta semana específica, não dá pra desviar o olhar nem por um segundo. Juro que vem uma vontade de parar tudo, entrar na caverna e só sair quando a tempestade passar. Não é nada depressivo (tá bom... talvez um tantinho!), mas é inquietude na veia e uma vontade incrível de introspecção.

Mês passado fui assistir a peça: “A marca da água”(cenário incrível, história ok) e fiquei pensando exatamente nesse meu movimento mensal quando a personagem principal questiona em uma de suas falas: “Eu sei que o nível da água está subindo mas não dá pra ser mais de mansinho?” Peça cabeça mas, de repente, sentí uma vontade imensa de gargalhar até dizer chega; afinal, não é exatamente esse o desejo frequente de todos nós? De que o nível da “água” suba de mansinho enquanto que a oferta do dia é sempre uma enxurrada daquelas?! Trégua, só depois que o ciclo finda... para que o próximo da fila tenha início!

E eu que durante anos me iludí acreditando que a grande consequência desta fase era o aumento da capacidade de raciocínio? Que nada! O que vinha rápido era a emoção, chegando aos borbotões. O meu espelho ficando muito maior, ganhando um zoom potente e me fazendo enxergar o que não foi pedido. Ao mesmo tempo, fazendo enxergar o que já era mais que necessário. Nesses dias de frio na barriga (vamos combinar que iluminar o que está escuro não é fácil não!) a companhia que me faz falta é o velho edredon, se possível uma taça de vinho pra alentar, um punhado de revistas(sim, elas chegam também no início do mês!!!) e o livro da hora na cabeceira. Casulo perfeito! Não resolve o frio interno mas acalenta que é uma maravilha! E, só pra subverter a ordem, o meu balanço mensal acontece mesmo é na primeira quinzena de cada mês, quando consigo enxergar a fera da Bella... Eu e quem chegar perto... 






segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sonho tem gosto...




Photo: Polsia


Em plena sexta a noite, eu, sentada na minha cama, cercada de revistas de decoração, agora que tenho um apê pra chamar de meu, e pensando no quanto os objetos que ajudam a compor a minha vida são infinitamente mais valorizados por mim pelo que significam afetivamente do que por qualquer outro motivo. Um sonho se realizando e eu, invadida pela empolgação desse novo cenário e das possibilidades que surgirão para novas construções de histórias inteiras com meus filhos, com os amigos queridos e comigo mesma. E não é que imaginar o próprio canto, reformar, transformar, é quase brincadeira de criança grande?! Quem quiser que prove o contrário!

Mil decisões para tomar, perdida entre a euforia da escolha dos revestimentos do banheiro, das cores dos estofados, dos armários da cozinha, etc, etc, além da ginástica incrível entre desejos e orçamento e eu, alí, me surpreendendo com escolhas que não passam nada pelo racional ou pelas necessidades práticas. Quer saber? Pouco importa se vai sobrar grana pro armário da cozinha mas, se a parede de azulejos encantadores vai colorir a sala e o coração, o resto é resto e fica pra depois. O que não abro mão é de um canto que dê vontade imediata de tirar sapatos e relógio; que combine com cheiro de bolo de canela no forno e, onde seja obrigatório ter uma rede gostosa, do ladinho da janela, pra ver lua cheia, brincar de canoa com os filhotes ou namorar até o dia clarear.

Não nego o valor da estética, admiro muito esse item mas, na minha vida e depois de alguma bagagem de vida, ela é, cada vez mais, apenas uma consequência deste estar, por dentro e por fora. Afinal, existe estética melhor do que a da nossa alma e sentimentos mais gostosos? Cada ambiente e é um pedacinho de você que vem à tona... Se for de outra forma, não faz sentido pra mim não.

De repente, a voz de Luca(9) chega do escritório me trazendo de volta: “Mãe, tem remédio pra nunca ser adulto?”  

“Tem não, filho...”, respondo, enquanto penso, quase instantaneamente, que bom mesmo seria ter remédio pra adulto sentir gosto de infância... do jeitinho que eu estava sentindo naquela noite, sentada na cama, vibrando com a vida. E quem disse que sonho não tem gosto? Este último, tem um gosto irresistível de canela... Freud explica!


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Bibidi Bobidi Boo!!!








Tem jeito não, acho que mais 20 anos aqui em São Paulo não serão suficientes para modificar algumas “manias” que trouxe comigo da Bahia...

Sempre gostei de roupa feita com costureira: aquela romaria de ir na loja, escolher tecido, aviamentos, pensar no modelo (criado ou copiado na cara de pau que Deus me deu mesmo), etc. pode parecer pesadelo para alguns mas, para mim, é sinônimo de diversão sem fim!  Vale adicionar ainda, a espera e expectativa para a roupa ficar pronta (me fazendo relembrar o quanto desejar em época de imediatismos vale à pena),  a prova para os ajustes finais e todo o baticum do coração na euforia da estreia! O tempo vai passando, mudo a cada segundo mas permaneço igual em tantas coisas... Quem sabe esse não seja um bom exemplo para definir o conceito de essência?!

O carnaval está chegando; não é a toa que esse tema me invadiu. Lembrei hoje com muita nitidez e tão intensamente de uma época da minha vida onde os preparativos para o carnaval começavam meses antes. A compra do abadá, das passagens aéreas pra Salvador e nos modelitos imaginados e costurados em apenas um dia, na casa de uma amiga querida. Tínhamos uma fada madrinha de verdade só pra gente e  passávamos o dia no ti-ti-ti entre o colorido dos tecidos (delicias dos exageros tão possíveis do carnaval!), as provas de roupas inspiradíssimas e gargalhadas sem fim!

O meu carnaval começava alí, num apê de São Paulo, abarrotado de fantasias por dentro e por fora. E o reinado do Momo, era puro contágio dessa alegria, desses pequenos desejos realizados e saboreados.

O tempo passa: a amiga mudou-se para o outro lado do mundo mas segue bem presente no coração,  as roupas hoje são feitas por um alfaiate que continua me fazendo acreditar que carruagens de abóbora são bem possíveis e, atualmente, são essas lembranças que abarrotam meu coração de saudade.


É... felicidade não é pouca coisa não!