sábado, 25 de agosto de 2012

Mais do mesmo?

Terminar de ler um livro bom é sempre um sofrimento pra mim. Fica a saudade dos ambientes, do enredo e, principalmente, dos personagens que, com o tempo, se tornaram íntimos. “A elegância do ouriço” de Muriel Barbery, presente de uma amiga querida, me presenteou além. Tem um discurso original que surpreende a cada capítulo. Não foi amor a primeira vista, não. Foi me conquistando aos poucos, me surpreendendo e, quando me dei conta, estava completamente seduzida pela narrativa e pelo fluxo dos acontecimentos contidos ali.
Quando já tinha perdido as esperanças de gostar do livro, me deparei com uma frase que me capturou: “(...) decoramos nossos interiores com redundâncias”. Uau! Me fez pensar instantaneamente no quanto seguimos, ao longo da vida, colecionando padrões de sentimentos, formas de viver e de perceber o mundo, sem muita certeza da sua utilidade, tal como fazemos com os objetos. Muito do mesmo; talvez com alguma variação de formas e cores... Mas e aí, o que fazemos com tantos conteúdos repetidos? Afinal, o que é cópia e o que é autoral em nossas vidas?
Sigo copiando o outro, me vestindo como esperam que me vista, me comportando como gostariam que me comportasse, vivendo uma vida “normal”, “adequada”, etc, etc. Dessa forma consigo enganar muita gente mas infelizmente (ou felizmente!!!) não consigo agradar a todos, muito menos a mim mesma! Algo me faz recordar diariamente da farsa que me tornei, e bate insegurança, e então dependo do outro para me aprovar e me dizer quem sou, e minha vida vai acelerando vertiginosamente por estes descaminhos.
Que ilusão é essa - a de que possuir em dobro pode nos fazer mais felizes?  A repetição pode até nos iludir (e o faz!) porque promete amenizar a insegurança: trilhar caminhos conhecidos não deveriam dar a garantia de onde estamos pisando e ainda permitir que estejamos em movimento? Buscamos e buscamos, incessantemente, algo que nem sabemos o que é, mas que precisamos para sanar o vazio interno, maior a cada dia. Socorro! Morro de tédio só de pensar nesse caminho linear, sem obstáculos que possam efetivamente me desafiar para além de mim.
Afinal, o prazer não consiste justamente na efemeridade e singularidade que o constituem? Enquanto sentimos prazer, de qualquer espécie, a última coisa que pensamos é no medo da sua ausência; ao menos naquele instante! E podemos aproveitar o que temos sem a concorrência do que ainda não temos e sem o medo aterrorizante da falta. É a inteireza exigida por um instante tão pleno quanto fugaz. Um instante inédito que propõe justamente desvendar o desconhecido. Não passa pela escolha racional, é sentimento na veia e ponto!
Por isso, buscamos repetir essa sensação a qualquer custo, desejando eternizá-la. Criamos estratégias, procuramos onde não mais existe, damos voltas atrás do próprio rabo quando um mundo de possibilidades está bem diante(ou dentro) de nós e não ousamos enxergar. Quanta ironia! Optamos por nos perder em caminhos conhecidos porque temos medo, muito medo, de nós mesmos...