No
fim de semana passado lí no jornal que uma peça estava em cartaz: Barafonda.
Gratuita, encenada nas ruas da Barra Funda, crítica favorável e nome mais que
simpático, na minha opinião, foram suficientes para que fechasse a programação
da minha tarde de sábado.
A
história começava em uma praça e se deslocava por todo o bairro, misturando
história e mitologia. Algumas vezes, com insights realmente geniais; noutras
vezes, apenas elucubrações impossíveis da expectadora aqui decifrar.
Uma
cena me tocou muito e continua me impactando. Não queria escrever sobre nada
este mês, numa preguiça de inverno absoluta, cansada da minha vozinha interna,
prolixa que só, que teima em conversar comigo o tempo todo, sem trégua. Mas a
cena, perdurando na minha cabeça, nos meus pensamentos.
Enquanto
caminhávamos pelo bairro, os atores se misturavam com os pedestres, lojistas, motoristas
de carros e motos que passavam por alí. Debaixo do Minhocão, arte e vida real
caminhando de mãos dadas. Várias cenas acontecendo ao mesmo tempo quando, de
repente, uma expectadora pára, saca o celular e tira uma foto: um adolescente
socorrido em plena crise de overdose pelos atores. Ela enxergando fantasia
enquanto a realidade estava alí, estampada diante de quem quisesse enxergar. Masterização do trágico? E
eu, expectadora da expectadora, chocada, tentando identificar a que enredo a
nossa vida pertence.
Se
por um lado, imaginação e desejo podem nos libertar vide a proposta deliciosa
naquela tarde de sábado; por outro lado, o quanto de vida nos escapa, perdida em um cotidiano cada vez mais espetacularizado
e distante da realidade?
Ainda
me perguntando se a “fotografa” da peça se deu conta da cena que registrou. Para além da interrogação, uma constatação: Olhar é bem diferente de enxergar.
A
preguiça às vezes nos poupa. Às vezes, não...