Mais do mesmo?
Terminar de ler um livro bom é sempre um sofrimento pra
mim. Fica a saudade dos ambientes, do enredo e, principalmente, dos personagens
que, com o tempo, se tornaram íntimos. “A elegância do ouriço” de Muriel
Barbery, presente de uma amiga querida, me presenteou além. Tem um discurso
original que surpreende a cada capítulo. Não foi amor a primeira vista, não.
Foi me conquistando aos poucos, me surpreendendo e, quando me dei conta, estava
completamente seduzida pela narrativa e pelo fluxo dos acontecimentos contidos
ali.
Quando já tinha
perdido as esperanças de gostar do livro, me deparei com uma frase que me
capturou: “(...) decoramos nossos interiores com redundâncias”. Uau! Me fez pensar instantaneamente no quanto
seguimos, ao longo da vida, colecionando padrões de sentimentos, formas de
viver e de perceber o mundo, sem muita certeza da sua utilidade, tal como
fazemos com os objetos. Muito do mesmo; talvez com alguma variação de formas e
cores... Mas e aí, o que fazemos com tantos conteúdos repetidos? Afinal, o que
é cópia e o que é autoral em nossas vidas?
Sigo copiando o outro, me vestindo como esperam que me
vista, me comportando como gostariam que me comportasse, vivendo uma vida
“normal”, “adequada”, etc, etc. Dessa forma consigo enganar muita gente mas
infelizmente (ou felizmente!!!) não consigo agradar a todos, muito menos a mim
mesma! Algo me faz recordar diariamente da farsa que me tornei, e bate
insegurança, e então dependo do outro para me aprovar e me dizer quem sou, e
minha vida vai acelerando vertiginosamente por estes descaminhos.
Que ilusão é essa - a de que possuir em dobro pode nos
fazer mais felizes? A repetição pode até
nos iludir (e o faz!) porque promete amenizar a insegurança: trilhar caminhos
conhecidos não deveriam dar a garantia de onde estamos pisando e ainda permitir
que estejamos em movimento? Buscamos e buscamos, incessantemente, algo que nem
sabemos o que é, mas que precisamos para sanar o vazio interno, maior a cada
dia. Socorro! Morro de tédio só de pensar nesse caminho linear, sem obstáculos
que possam efetivamente me desafiar para além de mim.
Afinal, o prazer não consiste justamente na efemeridade e
singularidade que o constituem? Enquanto sentimos prazer, de qualquer espécie,
a última coisa que pensamos é no medo da sua ausência; ao menos naquele
instante! E podemos aproveitar o que temos sem a concorrência do que ainda não
temos e sem o medo aterrorizante da falta. É a inteireza exigida por um
instante tão pleno quanto fugaz. Um instante inédito que propõe justamente
desvendar o desconhecido. Não passa pela escolha racional, é sentimento na veia
e ponto!
Por isso, buscamos
repetir essa sensação a qualquer custo, desejando eternizá-la. Criamos
estratégias, procuramos onde não mais existe, damos voltas atrás do próprio
rabo quando um mundo de possibilidades está bem diante(ou dentro) de nós e não ousamos
enxergar. Quanta ironia! Optamos por nos perder em caminhos conhecidos porque
temos medo, muito medo, de nós mesmos...
Lendo o seu texto, me lembrei de um trecho da música de Karina Buhr:
ResponderExcluir"Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso, não"
Enfim, concordo com você, amiga. Acho que viver a nossa individualidade de um jeito singular é difícil, afinal vivemos na época da nova ditadura, apelidada carinhosamente de "tendência", "referência", sei lá mais o quê. Desde o que vestir, o que comer, aonde ir, como criar filho...tá tudo padronizado. Mas a gente vai tentando olhar pra dentro para encontrar o jeito nosso. Quando conseguimos, ajudamos a nós mesmos e mostramos ao mundo que é possível. Adorei o seu texto. Vou te acompanhar!
Amiga querida, avante!!!! Pra dentro, com muita coragem!!! E depois, pra fora... Afinal, o céu é o limite, né?rs Bj grande e vamos juntas!
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